sábado, 19 de janeiro de 2013

Magão fala sobre os preparativos do Bloco Ala Ursa do Poço de Sant’Ana para o carnaval de Caicó


O carnavalesco Ronaldo Batista de Sales (Magão) concedeu entrevista ao repórter Paulo Júnior (Jornal Correio do Seridó) e falou sobre os preparativos finais do Ala Ursa para o Carnaval de rua de Caicó.

Magão disse que a parceria com a Prefeitura de Caicó e os demais patrocinadores do bloco está ótima. “Esse ano, apesar das dificuldades, será o melhor ano para o Ala Ursa, pois eu estou tendo mais condições de sair e esperando chuva. Acho que vai chover, se Deus quiser”, salientou.  

Orquestra de frevo
Magão afirmou que a sua orquestra está 90% pronta e que está dando os últimos reajustes, pois a hora é de acertar com o repertório. “A gente não quer ficar com aquele paradeiro e vamos tocar 3 horas seguidas, para evitar de parar a orquestra.

Estrutura de som
Magão confirmou que a sua estrutura de som está melhor. Ele esperava testar a frevioca na sexta-feira, mas não foi possível e agora a previsão é que seja na terça-feira, dia 22 de janeiro.  

Apoios
O carnavalesco Magão agradeceu aos seus patrocinadores, entre eles, o SESC, SENAC, Sindicato do Comércio Varejista de Caicó, o empresário Victor Cirne, entre outros. Com a ajuda das entidades do comércio e dos empresários, o Ala Ursa reúne as condições de sair mais uma vez no carnaval de rua.

Ilha de Sant’Ana
Magão apoiou o novo esquema do carnaval de Caicó, sem a estrutura de bandas fixas nos palcos da Ilha, mas ressaltou que não tinha outra saída, em virtude das dificuldades enfrentadas pela estiagem.

“Eu acho que para mim será uma alegria, pois pela primeira vez, eu vou poder entrar na Ilha de Sant’Ana, pois antes, a orquestra não tocava na Ilha. É uma coisa tão simples, mas vai significar tanto para o meu bloco, pois nós vamos poder tocar um pedaço na Ilha”, comentou Magão.

Bonecos e burrinhas
Sobre a confecção de bonecos gigantes e as tradicionais burrinhas, Magão confirmou que o Ala Ursa está com uma estrutura melhor e ressalta que teve motivação para iniciar o trabalho cedo, para sair no carnaval 2013.

Saiba mais sobre o Bloco do Magão com o trabalho de pesquisa enviado ao Jornal Correio do Seridó por David Fernandes Barros – Aluno graduando do curso de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Centro de Ensino Superior do Seridó

Em 1990, um grupo de amigos decidiu se reunir e criar um bloco, tendo como dirigente e principal idealizador Ronaldo Batista de Sales, o popularmente conhecido “Magão”.

O bloco “Ala Ursa do Poço de Sant’Ana” surge então com a finalidade de chamar a atenção da sociedade para o Poço de Sant’Ana lugar místico de várias histórias e lendas da cidade, que sofria com o esquecimento e com a poluição e o resgate do carnaval de rua caicoense que estava morrendo, além de tentar encontrar “uma forma de sustentabilidade para manter a família” segundo “Magão”.

Em seu início, o bloco era formado por pessoas totalmente discriminadas pela sociedade, por terem problemas com o álcool e drogas. Como um carpinteiro (Magão) e um bando de drogados queriam resgatar o carnaval de rua de Caicó e o Poço Místico da cidade?
O “Ala Ursa do Poço de Sant’Ana” vai se inspirar nos seus antecessores, mantendo todos os elementos e também inovando. Embora não tenham recebido ajuda dos blocos existentes, como o “Ala Ursa da Paraíba” que não compartilharam de seus conhecimentos carnavalescos.

O “Magão” e seus amigos, mesmo sem o conhecimento necessário começaram a confeccionar as próprias fantasias, e inovaram com os bonecos gigantes de papel machê, inéditos no carnaval caicoense. Segundo o Magão, “embora houvesse poucas pessoas nos arrastões, os bonecos davam uma outra dimensão ao bloco, dando a impressão de que haviam mais pessoas”.

O bloco se organizava, de acordo, com a disponibilidade dos participantes, que se trajavam de “burrinhas de padre” e papangus. Também tinha o urso e os grandes bonecos que chamavam a atenção do público por onde passavam. No começo não havia horário certo para o desfile do bloco, que poderia ser de manha, tarde, noite e até de madrugada durante os dias de carnaval. Muitas vezes o bloco foi tirado das ruas e oprimido pela polícia local, sendo impedido de realizar os arrastões.

Mesmo enfrentando o preconceito e o desdenho da sociedade, o bloco continuou nas ruas conseguindo aglomerar mais pessoas a cada ano e ganhando notoriedade na cidade. Em 1993 despertaram o interesse dos comerciantes da cidade, que resolveram apoiar o bloco em troca de estamparem propagandas de suas lojas nos bonecos gigantes. Com o pequeno crescimento foi implantada uma orquestra que contava apenas com três músicos, os quais criaram o hino do bloco. Com o despertar das pessoas para a festividade, o bloco ano após ano foi ganhando novas dimensões e crescendo cada vez mais.

Desde então, o bloco não parou mais de crescer, e passou a ganhar vários setores da sociedade, conseguindo democratizar aos poucos o carnaval caicoense e a quebrar o preconceito existente desde o início do século XX. O “Ala Ursa” possibilitou a descaracterização dos antigos carnavais caicoenses marcados pela imensa estratificação social e o puro preconceito racial e social. No final dos anos 90, o bloco começou a abrir o carnaval, e se tornou o marco e o referencial das festividades carnavalescas de Caicó, arrastando multidões por toda cidade.

O povo caicoense e de todo o Seridó têm como características peculiares, a alegria, a hospitalidade, segurança, ótima gastronomia, e principalmente em relação a festividades, um caráter festivo disseminado em toda a sociedade. O “Ala Ursa do Poço de Sant’Ana” conseguiu passar para a sociedade e os foliões de todas as partes do Brasil que o seguem, a essência do povo caicoense e seridoense, a alegria e a extroversão. Construindo assim uma identidade e um carnaval próprio encontrado somente aqui. Com a transmissão e disseminação da ideia de diversão, o bloco criou um carnaval sem violência onde a ordem é brincar, e todos os que participam, estão ali só pela alegria que o carnaval proporciona.

Além da disseminação da ideia simples e pura da brincadeira e diversão. O “Bloco do Magão” tem outros pontos que o diferem dos demais blocos e que a aliada a genialidade de seu dirigente, conquistam e contagiam toda a massa. Ao quais tentarei enumerá-los a seguir.

O bloco reviveu as antigas marchinhas de carnavais, que são tocadas em forma de frevo frenético e cantadas de forma praticamente gritada. Aliando esses dois elementos a uma forma peculiar de interpretar as antigas marchinhas, o bloco desenvolveu dentro da construção de sua identidade, uma forma ímpar de animação carnavalesca, onde a orquestra desenvolve um ritmo frenético que sincronizado com a música, contagia toda a massa não deixando ninguém parado.

Outro ponto e talvez o maior diferencial do bloco, é que desde a sua fundação, a população sempre esteve em contato direto com todos os elementos do bloco, não havendo limites para participação da população, possibilitando uma liberdade e interação das pessoas, possibilitando assim um dos objetivos do carnaval de rua. Fazendo assim com que, todos os foliões sejam o bloco e o bloco seja todos. Fazendo desaparecer as classes sociais, as etnias e as diferenças, promovendo a igualdade democrática durante os arrastões pelas ruas da cidade. Objetivo pelo qual o bloco foi criado a décadas, nos anos 30.

A divulgação do “Bloco do Magão” é outro ponto a ser elencado. Tornou-se prática comum dos caicoenses, apresentarem e introduzirem os filhos, ou seja, as novas gerações nos festejos carnavalescos através do “Ala Ursa”, fazendo com que a tradição do carnaval de rua seja transmitida de geração em geração.

Dessa forma a tradição do carnaval de rua do “Ala Ursa” é mantida pelos jovens, que por sua vez, divulgam os festejos do bloco carnavalesco e a cidade, por todas as partes do país, quando saem de sua cidade, na maioria dos casos para estudar, através do “boca a boca”, incitando e atraindo amigos e conhecidos, que ao conhecer a cidade e o festejo, também passam a propagar o carnaval caicoense. Fazendo dessa forma, a propaganda das festividades carnavalescas e da cidade, que ganharam proporções regionais, e hoje nacionais. Segundo o “Magão”, “os jovens universitários, foram os grandes responsáveis ou os maiores contribuintes, para a repercussão do ‘Bloco do Magão’, no cenário regional e nacional”

Pontos importantes também a serem destacados, é o imenso respeito e popularidade do carnavalesco “Magão”, que o possibilita administrar eventuais problemas e desafios, com apoio de toda sociedade, além de conseguir manter o objetivo principal do bloco que é promover a alegria e a igualdade das pessoas.

Entre os desafios vencidos pelo bloco, foi padronização da hora da saída do bloco, que foi de fundamental importância para o sucesso do bloco, que enfrentou muitos problemas no início por falta de padrão nos horários de saída. Passando a população a se adaptar ao bloco ao invés de o bloco se adaptar a população. 

Aliando-se a isso também se deve o eficiente trabalho conjunto das polícias civil e militar e o corpo de bombeiros, que com o contingente de cerca de duzentos homens, mantém a ordem e segurança do carnaval caicoense, em meio a cerca de noventa mil foliões nas ruas, mantendo assim uma das marcas registrada de nossa cidade. 

O que antes foi uma relação de preconceito e opressão, hoje é uma relação de colaboração e união em prol da segurança e manutenção da ordem, além da diversão dos foliões.

Com todos esses atributos únicos, o “Ala Ursa” de Caicó construiu e adquiriu uma identidade própria, não encontrada em nenhuma outra parte do mundo. Com todo esse sucesso veio a responsabilidade. O que antes era uma brincadeira de amigos se tornou exemplo e referencial para todo o país. 

Hoje o “O Bloco do Magão” segundo o próprio dirigente, “não é mais de Caicó, nem do Seridó, mas de todo o Estado”. O bloco que no princípio arrastava algumas dezenas de pessoas, hoje arrasta uma multidão em torno de noventa mil pessoas por dia.

O “Bloco do Poço de Sant’Ana” que veio de baixo sofreu com o preconceito e a descriminação, hoje é abraçado por toda a sociedade e inclusive pela elite, que antes o olhavam com desprezo. 

Mesmo assim ainda há um enorme descaso do Poder Público Local e Estadual, que não se mobiliza para melhoria da infra-estrutura, que já não é a ideal para os parâmetros atuais da festividade, e que não oferece nem mesmo o mínimo da infra-estrutura necessária, como banheiros químicos em alguns pontos chaves da cidade e do percurso do bloco.

E é com peculiaridades, como um mudo que toca e um padre que canta na orquestra, que o “Bloco do Magão” se difere dos demais, conquistando e contagiando o público por onde passa, arrastando multidões ao som de seu hino:

Hoje eu vou pular
Hoje eu vou brincar
Só vou parar quando chegar
A Quarta – Feira
O Ala Ursa
Eu vou acompanhar
Eu só vou parar
Quando chegar a Quarta – Feira
Tem bonecos para a turma agitar
Tem as burrinhas pra crianças se alegrar
Eu quero ver toda massa
Agitando
Quero ver povão pulando
Quero ver tu balançar.

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